A escova dental é essencial para remoção mecânica da placa bacteriana, contudo, muitos estudos comprovam que a escova pode ser contaminada após o seu uso, devido ao contato com a cavidade oral, principalmente com o biofilme, mucosas, saliva e/ou sangue.
A microbiota natural, boca quando em equilíbrio, não trás qualquer perigo ou risco de doença, porém, quando estes micro-organismos estão presentes na escova dental, podem se proliferar, tornando-se uma fonte para autoinfecções e infecções cruzadas pelo contato com outras escovas. Estas infecções podem se restringir a cavidade oral, provocando a cárie e as doenças gengivais ou ainda doenças sistêmicas mais graves.
É fundamental a padronização de um procedimento de desinfecções de escovas dentais e inserção desse método no dia-a-dia das pessoas para auxiliar na prevenção de inúmeras doenças orais e sistêmicas. A desinfecção da escova deve ser realizada pelo borrifamento do desinfetante a base de clorexidina entre 0,12% a 0,2% e utilização do protetor de cabeça acrílico entre as escovações.
As escovas dentais normalmente são embaladas e comercializadas após um processo de esterilização por radiação gama, que é capaz de eliminar os micro-organismos de sua superfície, porém, após uma única utilização, as escovas se tornam contaminadas por bactérias, vírus e/ou fungos que podem estar presentes tanto na cavidade oral quanto no meio ambiente.
Estes micro-organismos podem permanecer viáveis na superfície da escova por um período que varia entre um e sete dias, contribuindo para a autocontaminação e/ou contaminação cruzada, ou seja, a contaminação entre indivíduos através do compartilhamento das escovas, ou mesmo por meio do contato entre as escovas, principalmente pelo contato entre as cerdas de diferentes escovas que dividem um mesmo local de armazenamento. Comprovadamente, os micro-organismos presentes na boca estão associados às principais doenças orais, ou seja, causam cárie, gengivite e periodontite.
No último congresso realizado pela FDI (Fédération Dentaire Internationale / World Dental Federation, Salvador / Brasil, 2010) o tema principal foi justamente a discussão dos motivos pelos quais as doenças orais (especialmente da cárie dental) ainda permanecem, nos dias de hoje, como uma verdadeira epidemia, incidindo em cerca de 88% da população mundial, ou seja, cerca de 5 bilhões de pessoas estão acometidas com esta doença crônica, considerada a patologia mais comum do planeta Terra.
É fato que a microbiota da boca presente no biofilme oral que se deposita sobre os dentes, mucosas, gengivas e língua possui diversos micro-organismos potencialmente patógenos. Porém, não se pode esquecer que esta microbiota também desempenha um papel importante na manutenção da saúde da boca e do organismo como um todo, desde que não ocorram perturbações na homeostase corpórea no ecossistema desta microbiota.
Estes micro-organismos precisam apenas ser controlados para que não provoquem, além da cárie e as doenças gengivais, outras doenças sistêmicas, como cardiopatias, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes.
Com certeza a prevenção das doenças orais com a utilização de escovas eficazes e atraumáticas, escovas interdentais, fio dental e higienizadores de língua continua sendo a melhor forma de evitar das doenças orais.
Entretanto, a desinfecção das escovas utilizadas para a higienização oral poderia desempenhar um papel coadjuvante muito importante na prevenção destas e de outras doenças que poderiam ser transmitidas por meio dos micro-organismos presentes na boca, principalmente no biofilme oral, secreções, sangue e saliva. Recentemente a humanidade passou por uma epidemia com a chamada gripe “suína” ou influenza, transmitida pelo vírus H1N1.
Uma das medidas adotadas para prevenir a transmissão da doença foi justamente a desinfecção rotineira das mãos com um gel alcoólico desinfetante. Não existe nenhuma justificativa para não tornar a desinfecção das escovas dentais um procedimento rotineiro e habitual que, seguramente, poderia auxiliar na prevenção de muitas doenças infecciosas.
Porém, infelizmente, o hábito desta desinfecção ainda não se tornou parte das condutas regulares e indicada de uma forma massiva pelos profissionais da área odontológica à população.
Protocolo de desinfecção da escova dental
A escovação dental é o meio mecânico individual de mais ampla utilização para o controle do biofilme oral. A desorganização da chamada placa bacteriana através das cerdas das escovas é fundamental, e é a forma mais simples para a prevenção das doenças orais, pois a placa desorganizada e oxidada não é capaz de provocar qualquer malefício.
Porém, após a escovação, as cerdas das escovas se tornam contaminadas sendo importante a realização da desinfecção antes da próxima escovação, justamente para evitar a autoinfecção e/ou a infecção cruzada. Uma sequência de escovação é apresentada a seguir:
1. Antes de iniciar a higiene oral, as mãos e unhas devem ser muito bem lavadas e esfregadas com água e sabão.
2. Também um bochecho com água para eliminar resíduos de alimentos deve ser realizado, pois isso diminui a chance da comida ficar presa entre as cerdas e sofrer uma decomposição posterior. Se houver restos de alimento presos entre os dentes, também devem ser removidos antes da escovação com o auxílio do fio dental e de escovas interdentais do tipo Prime que se adaptam perfeitamente aos espaços interproximais.
3. Após o término da escovação, preferencialmente com uma escova com mais de 5 mil cerdas e de acordo com a técnica recomendada, todas as superfícies da escova devem ser lavadas com água corrente.
4. Segue-se o procedimento pela remoção do excesso de água com uma pequena batida da escova sobre a palma da mão ou sobre a borda limpa da pia do banheiro.
5. Faz-se então a aplicação do desinfetante através do borrifamento do antisséptico oral a base de clorexidina entre 0,12% a 0,2% especialmente na parte das cerdas.
6. Coloca-se o protetor de cabeça que deve ter a sua parte interna também embebida pela solução antisséptica.
7. Em seguida, a escova pode ser guardada dentro do armário fechado do banheiro. O antisséptico ficará agindo durante todo o intervalo entre as escovações, promovendo assim, uma desinfecção eficiente.
8. Um ponto fundamental é: antes da próxima escovação, a escova deve ser novamente muito bem lavada e enxaguada em água corrente – da mesma forma descrita inicialmente – para a remoção dos resíduos do produto utilizado e também para a remoção dos micro-organismos eliminados.
Fonte: Odonto Magazine / Odonto Cases
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